sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Filme e reflexão: Mr. Nobody (Sr. Ninguém)

Que vida você teve? Cada escolha que fazemos é um caminho sem volta. 
Não podemos voltar. Por isso é difícil fazer escolhas. É preciso fazer a escolha certa. Enquanto não se escolhe, tudo permanece possível - Mr. Nobody.
A vida é um conjunto de escolhas, que às vezes achamos ter sob controle, gastando tempo pensando em todas as possibilidades, fantasiamos e planejamos o futuro. Enquanto os sonhos são dimensões que criamos, onde podemos construir com precisão os caminhos que traçamos e determinar suas consequências.

Ninguém gosta de sair do sonho e se deparar com a realidade, Mr. Nobody não é diferente. E se houvesse a possibilidade de fazer de cada escolha, uma vida - lembranças tão vivas que se confundem com a realidade?

No momento em que temos ciência das nossas ações, ou nos esquecemos das possibilidades infinitas que deixaremos para trás e fazemos uma escolha, ou nos jogamos ao acaso. E qual a probabilidade de nos arrependermos? Qual a possibilidade de querermos voltar no tempo? Ninguém gosta de fazer escolhas sem ter ciência das consequências, Mr. Nobody pensa assim também.

O Principio da Entropia já havia me perturbado quando tive o prazer de ler a "Brevíssima História do Tempo" (Stephen Hawking, 2006). Como ter fé que tudo ficará bem se a ciência garante que o universo tende à desordem? Cada segundo que passa o universo se torna um caos maior e irreversível. A própria viagem no tempo contradiz o principio da entropia: é impossível voltar a um estado de menos desordem. Mr. Nobody me fez lembrar disto e dos medos envolvidos.
Por que lembro do passado, mas não do futuro? - Mr. Nobody
Não podemos lembrar do nosso futuro, pois ele é um caos imprevisível. Mas seria possível trilhar por cada caminho produzido em cada escolha que fazemos? E se eu tivesse partido? E se eu houvesse lhe dito 'oi'? E se eu não tivesse feito aquilo? Para aqueles que temem perder uma possibilidade, cada segundo que vive ou se torna um arrependimento ou se torna uma lembrança a ser ignorada.

Podemos nos amarrar nas possibilidades, temer as escolhas. Mas quem você seria? Qual vida escolheria? Qual o destino que lhe faria mais feliz se pudesse prever todos? Há apenas um caminho a seguir, sem volta, qual seria sua escolha?

Não há respostas! Não se pode ter medo do caminho a ser trilhado.
Tudo poderia ter sido outra coisa e teria o mesmo tanto de significado - Tennessee Williams
Mr. Nobody pode ser um filme confuso, talvez sem nenhum sentido. Mas o que é a vida? Caminhos sem volta, os quais temos medo de trilhar. Ninguém gosta de ter que escolher a vida que terá, Mr. Nobody idem. É um filme filosófico, cheio de contradições, porém, são as mesmas que enfrentamos todos os dias.

Há pessoas que dizem que sou indeciso. Mr. Nobody me fez entender que a indecisão é a vontade de viver tantos caminhos quanto os que nos são apresentados. Há quem goste de não voltar atrás, quem mude de ideia o tempo todo, e quem não se move de forma alguma. Ninguém faz tudo ao mesmo tempo!

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Por que filmes são tão importantes? E quais?

Às vezes as pessoas ao meu redor me perguntam por que eu não gosto de filmes normais ou por que eu gosto de filmes que ninguém gosta, e, na maioria das vezes, fazem essas perguntas de forma retórica, sem querer saber o real motivo. Na minha opinião, eles apenas estão expressando a sua intolerância ou incompreensão quanto ao meu gosto pessoal. Mas já me acostumei com isso.


A maioria das pessoas preferem ir aos cinemas apenas para se divertirem, e, usualmente, isso significa assistir filmes dos gêneros ação, comédia e terror. Eu entendo essa necessidade, mas eu quero explicar neste texto porque os filmes são tão importantes para mim e que tipo de filme.


Desde que uma amiga me presenteou com uma lista com alguns dos seus filmes favoritos que eu TINHA que assistir(sim! Nossa amizade estaria arruinada, se eu não tentasse), meu gosto por filmes mudou drasticamente, e eu tenho que dizer, nunca mais fui o mesmo.


Jamais me considerei um fâ de filmes até aquele momento. Claro que eu tinha minha lista de favoritos, grande parte era de ficção científica. Assim como a maioria das pessoas, quando eu pensava em filmes brotava na minha mente diversão: qual filme me proporcionará mais prazer?


Após assistir filmes como:
  • 12 homens e uma sentença;
  • Laranja mecânica;
  • Beleza americana;
  • A onda;
  • Donnie Darko;
  • A pele que habito;
  • Amnésia;
  • Sentidos do amor;
  • Perfume: a história de um assassino;
  • Réquiem para um sonho;
  • Shame.


Eu comecei a apreciar filmes de outra maneira. Eles deixaram de significar apenas diversão. Agora significam: imaginação, pensamento crítico, perspectiva, realidade, oportunidade! E eu realmente desejo que as pessoas parem de ter esse conceito distorcido de que filmes são apenas uma diversão efêmera.


Sim, eles são divertidos. Mas não nessa linha ridícula de pensamento de que há apenas três tipos de diversão:
  1. Sustos
  2. Risadas
  3. Tensão


Filmes são como livros, mas nos livros o diretor é você. Você tem a tarefa de construir o mundo, as personagens, as cenas. É muito bom sentir que você é responsável pela estória. Acredito que essa é a razão para pessoas gostarem tanto de livros: gostamos de ter o controle. Somos a audiência e o diretor, ambos ao mesmo tempo, e essa sensação é incrível.


Mas filmes… Bem, filmes são uma oportunidade de deixar um verdadeiro diretor mostrar sua perspectiva de uma estória. E isso é fabuloso. Cada filme tem uma perspectiva e sensação única.


Não é sobre a estória em si. É sobre a trajetória que se percorre até chegar ao ponto em que se olha para a tela e se diz: bem, eu aprendi/senti algo novo!


Pode ser uma nova sensação, uma nova ideia, uma nova perspectiva sobre algo que você já sabia, ou uma forma diferente de contar uma estória. Novamente: o importante  é o caminho e não o resultado.


Você pode odiar o final. Pode odiar como o filme é lentamente executado. Mas veja o conjunto! O que você percebeu? Notou a câmera movendo-se de forma trêmula e inconstante, ou os atores se tornando as personagens e não apenas atuando? Notou como a trilha sonora muda de acordo com o cenário? Sentiu o cenário se adaptando ao sentimento das personagens? Como os cortes de cena te arrastam para dentro da estória? Ou ainda pior, como o diretor atinge diretamente seu estômago e te faz sentir nauseante, incomodado, querendo parar o filme a qualquer custo?


Claro, às vezes não há diretor, ator, ou profissional do cinema que consiga abrir nossos olhos. Mas talvez seja por conta do nosso preconceito. Tentamos a todo momento impor nossa perspectiva ao invés de aceitar a experiência cinematográfica por completo.


Assistir filmes não é sobre escolher a estória que você quer sentir. É sobre deixar alguém contar-lhe uma estória de uma maneira que você jamais conseguiria imaginar.


Não importa! Quando você está num cinema, o único filme ruim é aquele que não te oferece uma sensação completamente nova.


As pessoas assistem filmes esperando diversão. No entanto, eu espero cisão! É sobre uma estória que você não sabe como irá se sentir durante a projeção. Mais do que isso. Como toda estória, cada um terá uma opinião diferente sobre o filme, provavelmente ninguém irá capturar a visão exata do que o diretor, atores, e envolvidos estão querendo transmitir. Porém, esse é o objetivo! A mensagem foi transmitida, às vezes a entendemos, as vezes enxergamos além do que é passado, às vezes não fazemos ideia de por onde começar a tentar entendê-la, às vezes temos uma grande ideia. O que importa é que uma diminuta parte de nosso coração/mente se transformou de uma forma que talvez nunca iremos notar, mas que certamente irá ajuda a construir nosso caráter, mente e perspectiva do mundo.


Filmes são excelentes oportunidades de aprender sobre a vida, as pessoas, e as estórias envolvendo essas duas entidades. Está na hora de levar a sério os filmes e como eles podem fornecer uma experiência espetacular, assim como as demais artes. Os filmes são a sétima arte, e como Ricciotto Canudo disse em outras palavras: os filmes são uma arte em que todas as outras se encontram.

Não é apenas um espetáculo para as massas. É um conceito (ainda novo) de arte, que devemos aprender a apreciar.


Obviamente, ainda haverá filmes que gostaremos apenas pelos sustos, risadas, e toda minúscula parte que apenas nos impede de sentir o tempo passar. Porém, não deixe aquele pequeno pedaço de céu (ou inferno), que poderia transformar seu dia e sua vida, passar despercebidamente pelos seus olhos


Assista a mais filmes! E faça-o sob uma nova perspectiva a cada vez.


P.S.: Agradeço e dedico esse texto a minha amiga L.D. que me fez enxergar o mundo sob uma nova perspectiva, além de fazer minha paixão por filmes despertar!